Dia da Mulher - Viviana Gouveia
8 de Março de 2021 em Clube
Viviana Gouveia, 27 anos, natural de Águeda. Mestre em Educação Pré-Escolar e Ensino do 1.º CEB, pela Universidade de Aveiro e atualmente professora do 1.º CEB e Team Manager da equipa feminina de futebol do Clube de Albergaria.
"O futebol sempre foi uma constante na minha vida. Desde pequena que a bola de futebol era o meu brinquedo de eleição. Os intervalos e as horas de almoço na escola eram passados a jogar futebol e as ruas ao pé de casa eram os campos perfeitos. Contudo, o futebol federado só surgiu muito tarde, já com 17 anos e com o primeiro clube a ser a União Recreativa Ferreirense. Com uma passagem pelo FC Cesarense, ingressei no Clube de Albergaria na época de 2018/2019, onde permaneci como jogadora até à época passada. Esta época, por diversos motivos, não consegui continuar a jogar e então foi-me proposto continuar no projeto mas com diferentes funções, neste caso de Team Manager. De forma a continuar ligada à modalidade e à equipa, decidi agarrar esta oportunidade e espero conseguir ser uma mais valia para o Clube."
CA - Neste dia 8 de março celebramos mais um Dia Internacional da Mulher. O que significa para ti este dia?
Viviana Gouveia - O Dia Internacional da Mulher é um dia importante e que deve ser assinalado, no entanto acho que é essencial que se perceba que o Dia da Mulher é todos os dias. É todas as vezes em que há reconhecimento e visibilidade. Sempre que há treino e jogo. É sempre que temos o privilégio de desfrutar daquilo por que muitas mulheres lutaram durante tanto tempo. Essencialmente, acho que é um dia de reflexão e de valorização do que se tem e do tanto que ainda temos que alcançar.
CA - O futebol ainda é um exemplo de discriminação ou é cada vez mais um meio de promoção dos valores de igualdade na nossa sociedade?
VG - O crescimento a que temos assistido no futebol feminino tem sido uma prova de que a discriminação tem vindo a ser combatida. Há maior visibilidade e há uma aposta clara da Federação, o que também faz com que os clubes e as estruturas sejam mais capazes e haja mais condições para a própria atleta, à imagem do que acontece com o atleta masculino. Ainda assim, há um longo caminho a percorrer, uma vez que em todos os cargos adjacentes à modalidade (agentes desportivos, presidentes, treinadores, diretores, etc) são muito mais os homens presentes do que as mulheres, no entanto esta questão faz parte de um conjunto de tantas outras que, acredito, começarão a mudar com a continuidade deste mesmo crescimento. O desporto é um espelho da sociedade e, assim sendo, aos poucos vemos um aumento do número de mulheres em cargos de maior importância e responsabilidade e essa é a prova de que as mulheres são competentes e capazes, seja qual for a área em que estejam inseridas. Espero, por isso, que o mesmo aconteça no futebol feminino e que possamos, cada vez mais, assistir a mulheres a comandar, liderar, treinar, dirigir e afins.
CA - Várias modalidades desportivas, em particular o futebol, tiveram nos últimos anos uma dinâmica de forte crescimento no número de praticantes, com mais mediatismo e investimentos a cada ano superiores. Apesar do previsível impacto provocado pela pandemia, a valorização do desporto feminino não terá retrocesso? Como perspetivas o futuro próximo da modalidade?
VG - Os efeitos da pandemia estão a ser transversalmente negativos a todos os desportos, principalmente naqueles que estavam a ter uma dinâmica positiva de crescimento, como é o caso do futebol, na sua vertente feminina. Falando do cenário que tenho vivido, os efeitos da pandemia trazem alguns inconvenientes, contudo, estamos contentes por termos a possibilidade de continuar a jogar, muito devido ao esforço da nossa Federação em aumentar o número de testes realizados de forma a que seja seguro continuarmos a disputar a Liga BPI. Ainda assim e, de alguma forma, solidarizando-me com aquela que é a realidade dos clubes da segunda e terceira divisão ,admito que estejam a passar por grandes dificuldades, uma vez que se vive uma época de bastante incerteza e inconstância e todas as ajudas acabam por se tornar insuficientes para fazer face aos gastos inerentes a uma época. É, portanto, normal que haja consequências a esse nível e que algumas equipas acabem por desistir por falta de condições financeiras. Contudo, espero que continue a imperar o espírito de resiliência que caracteriza o futebol feminino e que o futuro próximo da modalidade seja otimista.
CA - Esta época assumiste a responsabilidade pelo cargo de team manager da equipa sénior. Como foi essa mudança para fora das quatro linhas?
VG - Foi uma boa mudança, é uma função que me permite continuar muito presente dentro do balneário e próxima da equipa. Como já estive do outro lado, é mais fácil aperceber-me das necessidades das jogadoras e estabelecer a ligação entre o plantel, treinadora e toda a estrutura associada. É um desafio com o qual estou muito contente.